Bebê morre após ficar 8 horas sem atendimento

Uma criança de apenas nove dias, que apresentava dificuldades para respirar, morreu no final da tarde de ontem, após passar 8 horas peregrinando por vários hospitais de Belém sem conseguir atendimento. O recém-nascido teve atendimento negado na Santa Casa de Misericórdia na madrugada de ontem, após vir do município de Nova Esperança do Piriá, a 300 quilômetros de Belém, trazido pela família, devido ele estar com dificuldades para respirar e seu corpo já apresentava manchas roxas.

Após a intervenção das Polícias Civil e Militar e de quase dez horas de idas e vindas entre a Santa Casa e o Hospital Pronto-Socorro Municipal da travessa 14 de Março, a criança foi atendida no PSM e precisou ser reanimada pela equipe médica para não morrer. O pequeno Antonio Filipe Matos chegou a Belém por volta de 18h de domingo, junto de sua mãe, a dona de casa Edinelza das Chagas Matos, 18 anos, em um veículo fretado pela Prefeitura de Nova Esperança do Piriá.

A mãe e o bebê foram deixados em uma casa de apoio na rodovia do Tapanã e receberam o auxílio da assistente social Francinéia Barbosa e do motorista José Valentim.

Mas o drama de Antonio Filipe estava ainda no começo. “Fomos na Santa Casa e mandaram a gente procurar o PSM. No PSM, disseram que esse atendimento só é feito na Santa Casa. Voltamos para a Santa Casa e, simplesmente, a médica não quis descer para atender a criança. Liguei para o 190 e chamei a polícia”, dizia José Valentim.

POLÍCIA

Somente às 3h de ontem, após a intervenção de policiais militares da 6ª ZPol e de investigadores da Seccional da Pedreira, a criança foi recebida no PSM. O bebê adentrou a unidade de saúde no colo da assistente social Francinéia Barbosa. Cinco minutos se passaram e Francinéia deu a notícia que o bebê havia falecido. Porém, pouco tempo depois, a informação foi corrigida: Antonio Filipe foi reanimado pela equipe médica.

Porém, os esforços foram tardios. A criança morreu às 18h10 de ontem, quando ainda aguardava a liberação de leito de UTI neonatal às 19h. Segundo a assessoria da Sesma, em nota, a criança foi cadastrada para ser transferida do PSM, porque ela tinha nove dias de vida, o que configura um atendimento neonatal. “Tal atendimento é de responsabilidade da Santa Casa. O cadastramento da criança foi feito na Central de Leitos, com prioridade, para que ela pudesse ser transferida para algum hospital da rede conveniada. A equipe médica do setor de pediatria tentou de todas as formas salvar a vida do paciente, mas a criança apresentava quadro de septcemia (infecção generalizada)”, diz a nota da secretaria.

A direção da Santa Casa afirmou que o recém-nascido não pôde ser internado porque “não havia leito na Unidade de Neonatologia e o hospital não possui atendimento de urgência e emergência neonatal e pediátrico”. O setor de internação do hospital ainda esclareceu que a Santa Casa recebe pacientes encaminhados pela Central de Leitos de Belém e, de acordo com a Central, a criança não tinha cadastro.

“A direção da Santa Casa volta a ressaltar que o hospital é prestador de serviços do Sistema Único de Saúde e possui 107 leitos de neonatologia, tendo que trabalhar dentro de sua capacidade para prestar atendimento adequado aos recém-nascidos internados”, disse a nota (com informações de Fábio Nóvoa). (G1)